o tédio do fim da tarde

Nunca entendeu aquele sentimento que chegava com o programa de forró na rádio do interior.
Músicas alegres a faziam sentir saudades.
Saudades do quê? Tinha apenas quatro anos e poucas lembranças de outros tempos.
Naquele instante era preciso tomar providências: procurar a sandália perdida nas brincadeiras do dia, tomar banho e fazer esforço para dormir.
No povoado sem luz, água encanada ou TV, crianças dormiam logo que ficava escuro. O momento exato era quando aqueles homens e mulheres com vozes muito graves tomavam o lugar das músicas de Luiz Gonzaga
Falavam de um mundo que a pequena não entendia. Naquele momento sentia imensa solidão.
Fazia planos. Teria uma casa cheia de gente e amor.
Falava consigo mesma fingindo ser amada, hábito que não abandonou depois que cresceu
Adulta, viu de perto os homens e mulheres da Voz do Brasil.
No Planalto Central conheceu a engrenagem por dentro.
Aprendera o nome do que sentia: melancolia
Os dias ainda lhe deixavam um gosto amargo.
Faltava algo
Faltava caminhar rumo à felicidade, mas como saber disso quanto mal se consegue encontrar o caminho do poço?


1 comentários:

Raíssa disse...

A melancolia parece ser justamente esse eterno "falta algo" que faz a gente inventar moda.
Seu blog está lindo, sua vida está linda, você está linda.
Saudades mil.

Quem Confessa

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Escritora iniciante, filósofa frustrada, psicóloga de botequim, jornalista por opção ou falta

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