espelho invertido

"Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha face?"



Nos últimos dias, tenho me flagrado recitando os versos acima como uma daquelas canções que grudam nos ouvidos e nos fazem ficar cantarolando até cansar.
São versos que aprendi em algum tempo passado, possivelmente em aulas de literatura, e que ficaram guardados nos escaninhos da memória. Agora, voltam como um disco riscado (só quem tem mais de 30 sabe o que é isso).
Sei, contudo. que não é sem razão que esses versos me aparecem.
O espelho, nome do poema de Cecília Meireles, tem me enviado vários recados
Mas não reconheço o que ele reflete e tenta me mostrar.
Vejo rugas em lugares inimagináveis
A pele não tem mais o mesmo viço
Nem os olhos o mesmo brilho
Na rua, o flanelinha me chama de patroa
Nos restaurantes, o garçom fala senhora
É o que mostra o espelho. A alguns meses dos 37 sou uma coroa
Como? Se nas minhas veias queima o sangue de uma adolescente?
Hormônios, emoções, inseguranças e sonhos. São os mesmos que me alimentam desde os 16
Estarei eu condenada a ser eternamente adolescente aprisionada num corpo cada dia mais decrépito?

2 comentários:

Raíssa disse...

Cara, como eu te entendo... Será que a Mercedes anda dizendo as mesmas coisas pra nós duas?? Porque, se não for isso, a gente podia propor uma videoconferência e rachar o valor da sessão... (rs).

Bj.

RS disse...

Desculpe a demora em reponder. Os dias têm sido corridos
Acho boa a idéia de rachar a sessão hehehehe

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Escritora iniciante, filósofa frustrada, psicóloga de botequim, jornalista por opção ou falta

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